domingo, março 13, 2011


Loucura social

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A história dela não começou com era uma vez e nem terminou com final feliz. A época das monarquias acabou faz tempo e com ela foi-se as princesas, os príncipes e os magos, só não foi a imbecilidade humana e o dom de fazer o outro sofrer.

A história, como a de todos nós, começou com lágrimas.

Parece que nascemos inteligentes e emburrecemos com o tempo. Já sabemos, logo que a primeira partícula de oxigênio entra em nossos pulmões, que estamos ferrados. Fomos escalados como elenco de um peça em que protagonizam loucos, doentes e psicopatas, não há direito a pausa para um copo d'água, nem diretor para nos dizer o que fazer, o roteiro é confuso  e nunca ouvimos a trilha sonora invadindo nossos ouvidos. Bem vindos à vida senhora e senhores.

O tempo passou e ela se esqueceu de como tinha chegado ali, foi sendo jogada de lado e pouco a pouco tornou-se coadjuvante da própria história. Foi julgada e condenada a lixo em uma sociedade em que só presta  quem faz merda e só faz merda quem quer. As sacolas plásticas pareciam ter mais valor que ela própria, ao menos para poluir o meio-ambiente elas serviam.

Foi ouvindo as risadas no fundo da sala e com o tempo fez dos fones de ouvidos seus melhores amigos, via mãos dadas e se perguntava quantos milhões era necessários para comprar um sorriso,  seus desejos e sonhos eram menosprezados como se desejar fosse coisa reservada aos magnatas e sonhos fosse coisa para os tolos.

Viveu assim, cresceu assim.

Os seres humanos sempre foram cruéis.  Vêem graça no sofrimento alheio como se eles próprios fossem imunes a dor e quando descobrem que tragédias podem acontecer com qualquer um já é tarde demais e estão todos com camarote reservado no inferno.

Foi no papel de vítima que ela enlouqueceu aos poucos. Começou com lágrimas em seus olhos e evoluiu. Coisas jogadas no chão do quarto, cabelo desarrumado, dias e dias sem pregar os olhos, perdeu tudo, dinheiro, os fones de ouvido, peso, os sonhos antes rejeitados...

Nós não sabemos nossos limites até que batemos a cara no muro.

Tentou de tudo, álcool, remédios, cordas, travesseiros, mas foi só quando a faca penetrou a pele do pulso que conseguiu e foi só quando isso aconteceu que ela entendeu. Passou a vida inteira escondendo a voz no fundo da garganta e a beleza por trás do capuz, não gritou, não demonstrou o que sentia porque tinha medo de sentir, acreditou em quem não acreditava nela,  viveu escondendo pensamentos, dons, talentos por achar que nunca seria boa o suficiente, por achar que era fraca demais. Mas fracos eram eles, pobres eram eles que nunca teriam sonhos para se apoiar, vivem tentando superar os outros quando não tinham coragem nem para superar a si mesmos. Ela entendeu, mas já era tarde demais.

Os seres humanos sempre foram cruéis, cruéis com eles próprios. Ouvem que não é possível, escutam que são incapazes e acreditam. Acreditam que são fracos demais para lutar e que seus talentos não são nada, que nunca vão realizar seus sonhos e que a vida é só uma peça de teatro. Mas forte é quem protagoniza a própria história mesmo contra a vontade dos coadjuvantes, forte é quem com um gesto cala todas as vozes, forte é quem levanta a cabeça, ouve as gargalhadas, arranca o fone de ouvido e ri com eles.

Ela acordou em um quarto branco  agora não tão sozinha assim e com um sorriso no rosto, mas não era um final feliz porque, por algum motivo, ainda não tinha acabado.

3 comentários:

paradigmas universal disse...

é um sentimento de liberdade o sofrimento do proximo.

paradigmas universal disse...

alexandrespop@hotmail.com


gostaria que me add para trocarmos ideias. bjos

Anônimo disse...

Eu só quero dizer que você escreve muito bem.
Tudo o que você disse pra mim faz todo sentido, já me senti muito assim e ainda sinto. Não é algo que passe com o tempo, ainda não dei esse sorriso final, porque por aqui também não acabou ainda.

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