quinta-feira, dezembro 08, 2011


Do outro lado do bar

1

Ele a avistou no bar, quieta, sozinha, com um drink quase sem álcool em mãos, parecia séria, pensativa. Seus olhos não procuravam pela porta, então deduziu que ela não esperava por ninguém, e pela formalidade da roupa devia ter acabado de sair do trabalho e tinha se dirigido até ali para esfriar um pouco a cabeça.
Ele podia ter se levantado e ido até ela, mas algo o fez ficar ali e apenas observar. Ficou sentado, pediu uma dose de whisky, reparou no corte da cabelo, na maquiagem fraca na pele, no brilho dos olhos quase perdidos no meio do cansaço, na maneira como ela olhava o relógio só por olhar, sem parecer se importar com  a hora que chegaria em casa.

E então, quando a vontade de conhecer a menina do outro lado do bar quase vencia, ela sorriu, não para ele, nem pra ninguém, apenas sorriu, aquele sorriso bobo, meio torto que a gente dá quando se lembra de algo que você gosta e há muito estava perdido na memória, mas pelo toque de dor que ele identificou quando os lábios se fecharam ele percebeu, ela pertencia a outro alguém.

Não pertencia daquele jeito que a gente imagina, ele não entraria pela porta e lhe daria um abraço, nem ligaria dali 2 minutos e a faria sair às presas, não havia uma aliança ou contrato que a tornasse dele, pertencia simplesmente por pertencer, porque era com ele que o coração dela estava e ponto.
Então, o rapaz entendeu, ela não estava ali para se livrar do estresse que o trabalho proporcionara, aquilo nos seus olhos não era cansaço e sim dor, dor de quem ama, e ela não olhava o relógio daquela maneira porque não tinha presa e sim por que sentimentos são atemporais. Ela havia pegado o carro e dirigido até um bar no centro simplesmente para tentar esquecer ou, quem sabe, lembrar ainda mais. Não olhava para porta e não prestava atenção em nada ao seu redor porque seus pensamentos estavam em outro lugar, em outra cidade, onde ele podia estar, quem sabe até outro estado, ou talvez, apenas na outra esquina, mas a distância de sentimentos que os separava era maior do que qualquer coisa que possa ser medida.

Pensou ter ficado tanto tempo a observando, pensando na maneira como ela se encontrava por dentro, tanto tempo que em algum momento ela percebeu e se virou pra ele, assustada, como se não imaginasse que alguém do sexo oposto pudesse a notar naquele lugar, mas sorriu de novo, e dessa vez era pra ele.


Ela o olhou por uns segundos e reparou na maneira como ele a olhava de volta, como se entendesse tudo que se passava com ela, e quando os olhos dele, vergonhosos, como se com medo, desviaram o olhar, ela entendeu: ele pertencia a outra pessoa.
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